Não-respostas

Quanto ao não dito, nada a dizer. É sua escolha, e só sua, por mais acintosa que uma escolha possa lhe parecer. Respeito-a tanto quanto as consequências advindas dela. Ademais, sempre achei, como o Tio Ben, que com "grandes poderes vêm grandes responsabilidades" (ave Stan Lee). Desprezo, como sabe, a isenção de culpa por dedução tautológica. Considero mesmo uma falha lógica (redutora) evocar a panaceia do big bang (ou da razão prática) para eximir-nos das consequências ou atenuar a frustração de nossos tropeços. Sempre me remete à tese central do síndico da MPB: "tudo é tudo e nada é nada". Concluindo, se para ti a experiência é limitada pela razão, quem sou eu para demovê-lo. Na verdade, subscrevo: o outro é o outro. Ponto! Mas incorreria em outro erro lógico se exigisse alteridade considerando o conceito de razão da tradição racionalista clássica que busca definir a razão de forma lógica, formal e universal, separada das contingências sociais ou emocionais, o mesmo que a definição de Bourdieu e sua 'razão prática', contextualizada no habitus. A mistura de conceitos ai seria como confundir push e puxe (ou alhos com bugalhos) sem notar que são "falsos cognatos".
Com efeito, antes de adentrar minhas não-respostas, considero imperativo (r)estabelecer conceitos e normas que se acordadas garantiriam a coerência. Sublinho que faço isso não na ânsia de verter um adversário, mas ao contrário, na sincera intenção de estabelecer critérios para que a dialética flua sem a gravitação de interpretações fundamentadas em lastros e parâmetros diferentes, o que ao fim e ao cabo, poderiam levar nossa interlocução à algo parecido a um pseudo-diálogo entre dois ET´s de habitus diferentes argumentando em línguas completamente incompreensíveis um do outro. Ambos falemos da mesma coisa, considerando os mesmos parâmetros para uma argumentação lógica através de Premissas claras e aceitáveis, Raciocínio (dedutivo ou indutivo) válido e a supressão de Falácias (erros lógicos, como o Ad Hominem – atacar a pessoa em vez do argumento). Portanto, rótulos como ocidental, eurocêntrico, americano, branco, rico, colonizado, utilizados no introito, nada mais seriam que mera erística para invalidar o oponente de saída. Seria isso picaretagem ou mallacagem intelectual? Confesso: NÃO sei... E antes que se irrite e responda com o fígado, alteridade, pequeno Baudelaire. Por fim, conclamo-o, claudicante ou não, a seguirmos os elementos estruturais e metodológicos do debate filosófico, já que esse é e sempre foi o objetivo primordial do Canto Torto, ainda que às vezes corte feito faca a carne de um de nós. Concordas?
Se sim... "no mais... geraes..."
Começo então pelo início (veja, não sou acadêmico, a redundância me perseguirá nesse CANTO):
(i) Debate (ou dialética entre dois canalhas; ou ainda maiêutica provinciana): intercâmbio intelectual e rigoroso que envolve o confronto e a discussão de argumentos coerentes e embasados (valem todas as referências mas evitaria argumentos de autoridade. A autoridade aqui deve vir dos canalhas, preferencialmente, não de outrem).
(i.1) Foco nas questão fundamental, qual seja:
(i.1.1) Racionalidade ou irracionalismo - limites da abordagem definidos pelo cerne do debate:
- Devemos ser ou não racionais, e até onde tal racionalidade pautaria nossa conduta? Premissa básica: definir razão em comum acordo.
Não-resposta 1:
Enquanto eu falava da 'razão genérica e lógica', descobri pelo CANTO IV que referia-se às 'razões práticas', no contexto do Habitus de Bourdieu.
Não podia mesmo dar certo, a menos que tivéssemos definido parâmetros e conceitos antecipadamente, em comum acordo, como tento fazer agora.
Não-resposta 2:
By the way, Russell quando escreveu a citação referenciada, nos Ensaios Impopulares de 1950, falava da razão como Universal e Lógica, não a razão do Habitus de Bourdieu. Sendo ele um dos maiores expoentes do Racionalismo Clássico e da Filosofia Analítica, utilizava a razão como um padrão normativo para o pensamento e a ação e embora seja frequentemente classificado como um Empirista Lógico ou um dos fundadores da Filosofia Analítica (junto com G. E. Moore e Ludwig Wittgenstein), sua abordagem está profundamente enraizada e alinhada com os princípios do racionalismo clássico no que diz respeito à primazia da razão e da lógica. Dai vem minha abordagem, como discípulo (pedante e petulante, sim). Portanto, sua referência, longe de justificar algo, aponta mais para uma ação tresloucada ao colar fora de contexto um texto que embase uma tese descartando toda a obra e intenção do CONDE, NOBRE, FILÓSOFO, RICO (e branco, sim). Catso... que diabos foi isso??? E pra que tantos rótulos??? E ai respondo pela primeira vez a pergunta "É mais ou menos por aí, deu para acompanhar?"não, nada! Perdão, não sou acadêmico nem cultuo os mesmos oráculos. Mas sigamos.
Antes, porém, veio Motor Mania. Clássico e nostálgico, e para mim, genial. De novo, eu falando da razão universal, defendendo a primazia da razão e da lógica (a despeito da jornada do sapiens de Yuval contradizer frontalmente Aristóteles e embasar a ironia de Russell) como a única saída (ainda que não sejamos capazes de atingi-la - ainda), e você usando um exemplo da razão prática de Bourdieu. Ai voltamos ao que disse no segundo parágrafo e conclamo-o mais uma vez.
Já a alusão ao Pateta, gostei. Acho-me mesmo um goofy no mais das vezes.
Sem mais.
P.S. o intelectual de vulto não foi Jack Kinney, que atuou como produtor, mas Dick Kinney, seu irmão e roteirista, que escreveu o cartoon junto com Milt Schafer. Dê a Cesar(es) o que é de Cesar(es).
Não-resposta 3:
Depois disso, vêm os parágrafos com suas digressões sobre a razão(a sua) e o infanticídio, ocidentalismo, a escravidão pautada por ciência. O que??? Fala você do chamado Racismo Científico e das pseudociências craniometria, frenologia, eugenia? Se sim, mistura ciência com pseudociência (com fins politico-ideológicos) e pior, coloca o caro cartesiano aqui como um seguidor cego e obtuso só de fórmulas e equações. Se não, trilhas o caminho da temerosa moria, ou de Lucy in the sky with diamonds. Doeu, viu? Depois piora, compara de novo "minha razão" (a genérica, universal) com a sua (a razão prática de Bourdieu) para nivelar a morte de bebês no nascimento com portas trancadas a noite, assassinatos de esposas, brigas de trânsito, o falo do outro e o civilizado do selvagem, usando e abusando do estratagema erístico da 'extensão indevida'. Fala sério, pequeno Baudelaire... assim eu choro.
Reli meu texto e constatei:
[Pois bem: universalismo ou relativismo cultural? Em se tratando de determinados valores, como por exemplo a valorização absoluta da vida individual, especialmente a de um ser indefeso como a de um recém-nascido, ave ocidente! Não elaboro o porquê de minha opinião - confesso que cega -, talvez por ignorância ou simplesmente por empatia radical. Tenho filhos.]. Onde, santo Deus, extendi minha convicção para a sociedade dita civilizada ou a dita selvagem? Good God... doeu de novo. Fui até cauteloso ao dizer que não elaboraria minha opinião, já que cega. Em resposta, ainda recebi o contraponto do pensamento ocidental com a felicidade, Freud e um trem descarrilhado de inferências distantes do tema inicial (razão). Ai o debate perde-se no emaranhado das leituras e inferências acadêmicas, nas citações dispersas sem um eixo condutor lógico (já que eu ainda permanecia perdido no tema razão ou o irracionalismo), salpicadas talvez por claudicância boêmia, amorosa, hedonista ou simplesmente pela rotina sem graça do homo faber, caríssimo Baudelaire. Pululam a história teleológica, a razão ocidental produzindo progresso e tecnologias que terminam por oprimir e escravizar a África, necropolítica, Mbembe. Dai para o progresso científico pautado pela razão ocidental e a geração dos parâmetros da arguição cientifica que "extrapolam as exatas e ganham, primeiro, as ciências naturais, depois as sociais. Darwin dá sustentação à escravidão, à superioridade ariana, ao Terceiro Reich" foi um pulo. "A tecnologia das fábricas é aplicada aos Campos de Extermínio e, desde então, mata-se com eficiência industrial (não que os europeus não tivessem tais práticas antes de 1939" uma dedução inevitável. Lembro-me, porém, da anedota do corno que se depara com a traição da mulher no sofá da sala e atribui a culpa ao sofá. Hiroshima e Nagasaki não foi culpa da quebra do átomo. Precisamos pautar o debate sobre as mesmas premissas e conceitos, senão correremos o risco de entrar em briga de bêbado, pela arrogância e similaridades de personalidade que dizem partilhamos (e eu concordo).
Não-resposta 4:
O restante, embora instigante e fio condutor para pesquisas e leituras desse cartesiano leigo e insípido aqui, também extrapola em muito o tema pelo qual engatamos o debate. Para minhas não-respostas, não prementes e embasadas pelo que disse quando justificou "só estou tateando e pinçando ideias ao acaso. De que serve concluir, não é mesmo?", solicito mais tempo para vislumbrar o eixo lógico (ou não, diria Caetano) que me conduza. Afinal, ao citar Sidarta ou o estoicismo (embora o cerne seja a resiliência, independente de qual vetor a professou primeiro), me confundi. Não estávamos a discordar de algo? Sua dicotomia e digressões pinçadas aqui que só no tateio, nem sempre esclarecem, ao contrário, preenchem de brumas o que poderia ser um embate objetivo.
(i.2) Argumentação Rigorosa
(i.2.1) A base do debate é a argumentação lógica. Não basta apenas declarar uma opinião; é preciso justificá-la por meio de:
- Premissas claras e aceitáveis.
- Raciocínio (dedutivo ou indutivo) válido.
- Evitar Falácias (erros lógicos)
(i.3) Diálogo e Dialética
(i.3.1) o debate filosófico está intrinsecamente ligado à Dialética (o método de Sócrates), que envolve:
- Tese (uma afirmação inicial).
- Antítese (uma contestação ou argumento oposto).
- Síntese (uma nova compreensão que incorpora o melhor de ambos os lados, ou pelo menos esclarece a falha de um deles).
Por fim,
(i.4) Coerência e clareza (e aqui concisão e a palo seco definiriam o mantra)
(i.4.1) Os participantes devem buscar clareza conceitual (definir os termos usados) e coerência interna (garantir que suas posições não se contradigam). Se um termo é ambíguo, o debate deve começar por defini-lo.
Esse último, presumo, poderia ser-nos útil.
Assim, sugiro um reset antes de continuarmos com os cantos. Embora super estimulantes, e no meu caso, o rotor para pesquisas e leituras que há tempos pensei não ser mais capaz de abordar, necessito do tempo para alcançá-lo na teoria (não sou acadêmico), além de mais tempo para análise e formalização de minha própria opinião.
Notei, creio que a tempo, instrumentos desafinados, e ai o melhor é usar um diapasão. Eis ai minha sugestão.
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