Fractais
O título do blog veio de "E eu quero é que esse canto torto / Feito faca, corte a carne de vocês". Nada original, concordo...
Nem precisava; afinal, João e Belchior são mais que suficientes (boa desculpa).
A Palo Seco, além da música do Belchior, fora antes o poema do João Cabral de Melo Neto publicado em março de 1959 no Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, com ilustrações de Fernando Lemos. Depois disso, o poema seria publicado no livro 'Quaderna', de 1960.
A expressão significa  "a capella", "de forma direta, sem rodeios", e esse era o sentido. Mas ao invés do castelhano, optei pelo português do Belchior, dai o  'Canto Torto'.
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Eis que no segundo post do blog meu sobrinho responde intitulando o texto como 'Canto Um'. E embora eu não tenha passado do Inferno - de Alighieri -, não ascendendo portanto ao Purgatório nem ao Paraíso, a referência fisgou-me (petulância recorrente desse canalha. Não tenho cura).
O Canto Dois é, por conta disso, pautado por cacos, investidas onde Virgílio dá lugar a meu sobrinho. Um adendo, porém: aqui a inscrição do portal se faz diferente:
"Contais com toda a esperança, vós que entrais!"; afinal, trata-se de shed some light no impensado, e prefiro mesmo nunca ter que atravessar um Aqueronte. 
A ver...
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Não sei se estimulado pelo estudo da História Contrafactual, recebi outro dia críticas à minha ocidentalização cultural. Se aceitarmos Gramsci (um crítico da ocidentalização, ainda que mais econômica e socialmente) e seu conceito de hegemonia cultural, que culpa tenho eu? Tenho eu culpa??? Mas nem gosto tanto de Gramsci, cuja teoria centrou-se em Maquiavel e pariu um manual para os novos príncipes (ou príncipes modernos), aos quais, no fim, só interessava o poder.

E ai a contradição: a hegemonia cultural é ruim... só se for contra a minha corrente (não é à toa que sempre preferi a matemática, a física, onde essa relatividade não existe... só a de Einstein).
Pois bem: universalismo ou relativismo cultural? Em se tratando de determinados valores, como por exemplo a valorização absoluta da vida individual, especialmente a de um ser indefeso como a de um recém-nascido, ave ocidente! Não elaboro o porquê de minha opinião - confesso que cega -, talvez por ignorância ou simplesmente por empatia radical. Tenho filhos.
Nunca fui a favor da morte (pelo Estado. individualmente, acho até possível em algumas situações extremas... sou humano, after all), quanto mais dar trela ao relativismo cultural para assimilar extermínio lastreado por crenças cosmológicas ou rituais, ou ainda por fatores ecológicos ou de sobrevivência (falta de recursos, por exemplo). Até por fatores de sobrevivência, que ao fim carregariam algum racionalismo pragmático justificando a decisão, a morte remete-me mais a algo como 'A Escolha de Sofia', de Styron. Ainda que pragmaticamente correta, como conviver com a decisão e consigo mesmo depois? Não sei... e nem quero saber.
Fato é que não vejo a ocidentalização de forma tão pejorativa. Nem culpado me sinto, já que o legado do pensamento crítico e da razão também foram (principalmente) pavimentados por luminares da Grécia antiga, tanto ou mais que da Índia, China ou Islã. Ter ou não essa visão eurocêntrica não me torna obtuso ou surdo aos legados não ocidentais. A crítica, as vezes ácida e ferina, a mim soa mais como um cacoete/ranço acadêmico e marcação de posição, para dividir os comuns dos diferentes. E eu... sou comezinho.
Mas não importa... acho mesmo que qualquer chacoalhão serve pra questionar conceitos empoeirados que talvez escondam uma verdade diametralmente diferente... ou não. Mas já valeriam nem que apenas para fustigar o pensamento e sou grato por isso. Mas quero explicação... é o mínimo.
(...)
A descoberta de si mesmo, quae sera tamen, pode fazer aflorar mágoas refratárias que como numa criança, talvez resultem em pirraças, revoltas. Digerir o passado sob a luz da compreensão auditada por anos de experiência e estudo depois dos fatos, pode mesmo custar reações adversas e às vezes indesejadas. Esse parece-me o custo da maturidade; felizmente um processo, do qual, acredito, sempre podemos sair bem, ainda que chamuscados.
Rancores, ira, incompreensão do perdão, que minem aqui e ali como o pus das infecções emocionais de anos, cujas respostas ainda não existiam. Conjecturo que a fuga das sombras até cause a compulsão por lenitivos que se momentaneamente anestesiam, revelam-se depois apenas como cosméticos entorpecentes da dor. Continua, todavia, imperativo entender a causa, digeri-la sob a luz das moiras, do acaso, das escolhas ou do que for, caso queira-se mesmo evitar a loucura ou mitigar a depressão. Não importa a opção, forçoso continuar andando, até o fim.
A realidade, ainda que insípida e cruel com sua falta de poesia ou esperança, não pode empurrar-nos irrevogavelmente para um niilismo fatalista e mutuamente exclusivo entre Schopenhauer e Freud.
Prefiro adaptar-me e manter o passo, dar-me o direito ter ter convicções dinâmicas, desde que com alguma coerência, resistindo ao absolutismo a priori. Aprendi que é mais prudente. Caso contrário, ainda assim assumiria a responsabilidade e consequências da escolha, já que parte do 'motivo'  e base tautológica do determinismo de Schopenhauer.
Tal estratégia permite-me o registro da experiência e destrava inferências, algo que nos velhos  assemelhe-se talvez à sabedoria. Sei lá... tenho minhas dúvidas, mas que seja!
Concluindo, penso que o determinismo radical de Skinner, Pierre-Simon Laplace e Espinoza, ou o determinismo de Schopenhauer - ainda que não me apeteçam -, são úteis. Mesmo que Schopenhauer  esteja certo e "o homem pode fazer o que quer, mas não pode querer o que quer" e ainda que leis universais invisíveis determinem meu caminho, continuo alheio, ou teimoso. Me é conveniente. E como um Peter Sellers em 'Muito Além do Jardim', as vezes "ando sobre águas", negando até leis "físicas". Não como a consumação da transcendência ou santidade, mas apenas como a manifestação máxima de meu alheamento diante da complexidade das leis do universo (olha Ockham ai de novo), ainda que sejam elas que puxem as cordas desse puppet do destino. 
No fim, que destino? Gosto mesmo é de pensar que nessa porra aqui, quem manda sou eu!!! 
A ver...